Parashá – Sheminí (Oitavo)
Tema: “Limites”
Levítico 9:1 – 11:47
Profetas: 2 Samuel 6:1 a 7:17.
Escritos Apostólicos: Atos 10:9-22, 34-35.
Salmo complementar: 128.
Por Simon Caplum
Primeira leitura, 9:1-16
9:1 “E aconteceu, ao dia oitavo, que Moisés chamou a Arão e seus filhos, e os anciãos de Israel”,
Este oitavo dia coincidia com o primeiro dia do primeiro mês, o 1 de Abib, cf. Êxodo 40:2, 17.
O oitavo dia que se segue a um período de sete dias é um dia especial nas Escrituras:
- O dia de circuncisão dos meninos;
- O oitavo dia depois da festa de Sukot, chamado Sheminí Atseret (O oitavo grande dia);
- Como um dia representa mil anos, o oitavo dia simboliza o oitavo milênio depois da criação do homem, quando serão instituídos os novos céus e nova terra, e o Reino será entregue pelo Messias ao Pai.
9:2 “E disse a Arão: Toma um bezerro, para expiação do pecado, e um carneiro para holocausto, sem defeito; e traze-os perante YHWH.”
Agora é a vez de Arão sacrificar pela primeira na sua vida. O seu primeiro sacrifício seria um bezerro de oferta pelo pecado.
Normalmente era dado um novilho pelo pecado de um sacerdote, mas aqui Arão teria que oferecer um bezerro. Segundo Rashí, o propósito era expiar o pecado do bezerro de ouro.
9:6 “E disse Moisés: Esta é a coisa que YHWH ordenou que fizésseis; e a glória de YHWH vos aparecerá”
- “Esta é a coisa que YHWH ordenou” – corresponde ao estudo da Torá.
- “que fizésseis” – corresponde à obediência à Torá.
- “à glória de YHWH vos aparecerá” – é o resultado do cumprimento dos dois primeiros.
9:7 “E disse Moisés a Arão: Chega-te ao altar, e faze a tua expiação de pecado e o teu holocausto; a faze expiação por ti e pelo povo; depois faze a oferta do povo, e faze expiação por eles, como ordenou YHWH.”
Pela segunda vez, Moisés diz a Arão que apresente a sua oferta. Isto nos leva a pensar que Arão hesitou e por isso não se atrevia a aproximar-se do altar.
Moisés motiva-o novamente para que assuma o seu lugar como sumo-sacerdote e faça o seu trabalho. Isto nos ensina que o Eterno
providenciou um sacrifício perfeito para que possamos ter acesso ao serviço sagrado diante de Ele.
O Eterno tinha perdoado Arão. É possível que ele tivesse a consciência pesada e vergonha pelo seu grande pecado.
Mas a escritura ressalva a grande misericórdia de D’us ao permitir um grande pecador ocupar o posto mais alto da nação. Arão é um excelente exemplo do perdão do Eterno.
Se nos arrependermos de nossos pecados, e os confessarmos os nossos pecados pedindo perdão e colocarmos nossa confiança na misericórdia do Eterno, podes estar seguro de que Ele nos perdoou, cf
1 João 1:9:
Em Jeremias 31:34b: “porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados.”
Certamente os nossos pecados foram apagados e perdoados pela morte do Messias, representada nos sacrifícios do pecado.
Mas conforme vamos crescendo espiritualmente entendemos cada vez mais a gravidade daquilo que fizemos.
Então surge em nós mesmos uma imensa gratidão que produz um louvor eterno a YHWH pela obra redentora mediante o Messias, que fez chegar até nós.
Segunda Leitura: 9:17-23
9:22 “Depois Arão levantou as suas mãos ao povo e o abençoou; e desceu, havendo feito a expiação do pecado, e o holocausto, e a oferta pacífica.”
Aqui Arão abençoa o povo usando as palavras da bênção sacerdotal, co “birkat kohanim”, ברכת כהנים que se encontram em
Números 6:24-26: “Hashem te abençoe e te guarde; Hashem faça resplandecer o seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti; Hashem sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz.”
9:23 “Então entraram Moisés e Arão na tenda da congregação; depois saíram, e abençoaram ao povo; e a glória de Hashem apareceu a todo o povo.”
O Eterno tinha prometido mostrar a sua glória nesse dia. Mas apesar de Arão ter cumprido aquilo que lhe fora incutido, e ter abençoado o povo, não veio a glória do Eterno.
Por que razão a glória não se mostrou quando Arão tinha feito tudo, e apenas se mostrou quando Moisés e Arão juntos abençoaram o povo?
Duas razões pelas quais Moisés acompanhou Arão ao lugar santo:
- Entraram no tabernáculo para que Moisés lhe ensinasse como queimar o incenso.
- Entraram no tabernáculo para suplicar juntos para que o Eterno enviasse a sua Shechiná, a sua glória.
A glória do Eterno veio apenas quando os irmãos se uniram para abençoar o povo, juntos. 1º tinham estudado a Torá. 2º tinham obedecido à Torá. 3º tinham oferecido os sacrifícios ordenados.
Isto nos ensina que a única coisa que finalmente pode trazer a glória de YHWH sobre nós, é a unidade dos irmãos.
O Salmo 133 destaca a relação que há entre a unidade e a unção sacerdotal: Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união. É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes. Como o orvalho de Hermom, e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali YHWH ordena a bênção e a vida para sempre.”
Temos vários exemplos nas Escrituras de irmãos na carne que servem a YHWH juntos de uma forma poderosa. Moisés e Arão, Efraim e Manassés, Pedro e André, Jacob e João, Tiago e Judas.
Se Moisés e Arão não tivessem tido essa unidade, não teria manifestado a Shechiná de YHWH nesse dia.
Isso nos ensina que se não estamos vivendo em harmonia, não virá a presença do Eterno sobre nós.
Tiago 4:1 está escrito: “De onde vêm as guerras e pelejas entre vós? Porventura não vêm disto, a saber, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam?”
Este texto nos dá a chave para entender que a causa das guerras e conflitos entre os irmãos, são as vaidades, a inveja, o ciúme e o egoísmo é que causam as dissensões entre os irmãos.
Em 1 Coríntios 3:3: “Porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens?”
1 Coríntios 13 fala do carácter do Messias em nós. Ali vemos como o amor é a solução para os conflitos, como está escrito nos versículos 4-7:
“O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. ”
Terceira Leitura: 9:24 – 10:11
9:24 “Porque o fogo saiu de diante de YHWH, e consumiu o holocausto e a gordura, sobre o altar; o que vendo todo o povo, jubilaram e caíram sobre as suas faces.”
A glória do Eterno manifestou-se como um fogo consumidor. Ele mostrou com isto que estava muito satisfeito com o sacrifício de Arão.
O Eterno, não recebe os sacrifícios dos ímpios, como está em
Provérbios 15:8: “O sacrifício dos ímpios é abominável a YHWH, mas a oração dos retos é o seu contentamento.”
Em Provérbios 21:27: “O sacrifício dos ímpios já é abominação; quanto mais oferecendo-o com má intenção!”
Eclesiastes 5:1: “Guarda o teu pé, quando entrares na casa de Deus; porque chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal.”
O fogo do Eterno cai sobre os sacrifícios que são feitos com corações totalmente entregues a Ele cf:
1 Reis 18:38: “Então caiu fogo de YHWH, e consumiu o holocausto, e a lenha, e as pedras, e o pó, e ainda lambeu a água que estava no rego.”
Em 2 Crónicas 7:1 está escrito:
“E acabando Salomão de orar, desceu o fogo do céu, e consumiu o holocausto e os sacrifícios; e a glória de YHWH encheu a casa.”
Se queremos experimentar a glória do fogo de HaShem nas nossas vidas é necessário darmo-nos como sacrifícios de ascensão, com corações totalmente entregues.
10:1 “E os filhos de Arão, Nadabe e Abiú, tomaram cada um o seu incensário e puseram neles fogo, e colocaram incenso sobre ele, e ofereceram fogo estranho perante YHWH, o que não lhes ordenara.”
Arão tinha sido condenado à destruição por causa do seu pecado com o bezerro de ouro.
Deuteronômio 9:20, O Senhor se irou muito contra Arão para o destruir; mas também orei a favor de Arão ao mesmo tempo.
Isto implica que a sua descendência seria eliminada. Ao perdoá-lo, a vida dos seus filhos também foi perdoada.
Contudo, dois deles morreram neste momento, quando serviram em rebeldia, fazendo algo que o Eterno não tinha ordenado. Aqui se chama de fogo estranho.
O fogo estranho poderia significar que o fogo tinha sido tirado de um lugar profano. Também pode significar oferecer algo ao Eterno de forma contrária ao que Ele estabelecera.
Isso nos mostra que se fizermos as coisas à nossa maneira, o Eterno não irá se agradar de nós.
Rashí diz que eles fizeram algo sem consultar a sua autoridade espiritual o que configura rebeldia.
O rabi Ismael diz que tinham entrado no santuário embriagados, e por isso mais tarde é dada a ordem de proibição de beber vinho quando estivessem no serviço do templo, cf. Levítico 10:9.
10:3 “E disse Moisés a Arão: Isto é o que YHWH falou, dizendo: Serei santificado naqueles que se chegarem a mim, e serei glorificado diante de todo o povo. Porém Arão calou-se.”
Quanto mais perto de YHWH estamos, mais santidade nos é exigida. Se alguém do povo tivesse cometido um erro semelhante, é possível que não fosse morto.
Mas os que estão perto e pecam, sofrem maiores consequências pelo seu pecado. O líder tem mais privilégios, mas, ao mesmo tempo é exigido dele muito mais.
Privilégios e responsabilidades andam sempre juntos. Para ter privilégios no Reino, é necessário viver numa disciplina mais elevada e fazer mais sacrifícios pessoais.
Êxodo 29:43-44: “E ali virei aos filhos de Israel, para que por minha glória sejam santificados. E santificarei a tenda da congregação e o altar; também santificarei a Arão e seus filhos, para que me administrem o sacerdócio.”
Sem santidade não há glória. A glória sem santidade mata. O mesmo fogo que operou em Levítico 9:24 operou em 10:2.
9:24 pois saiu fogo de diante do Senhor, e consumiu o holocausto e a gordura sobre o altar; o que vendo todo o povo, jubilaram e prostraram-se sobre os seus rostos.
10:2. Então saiu fogo de diante do Senhor, e os devorou; e morreram perante o Senhor.
Aqueles que são canais, para que o povo possa receber a presença Divina, têm que fazer as coisas com extremo cuidado.
Alguém poderá pensar:
O Eterno é muito exigente com o serviço no santuário. Se cometer um pequeno erro morre. D’us é cruel”.
Como é que o Eterno não seria exigente com um culto diante d’Ele?
Os pacientes não exigem da mesma forma que o cirurgião seja muito cuidadoso e competente ao fazer uma cirurgia num órgão vital?
A vida e a morte do povo estão nas mãos dos sacerdotes.
Após a expiação feita por Yeshua, é n´Ele que temos que depositar a nossa confiança, porque ele é o nosso sumo-sacerdote, que permite que nos relacionemos com o Eterno.
No Reino do Eterno não há lugar para a mediocridade e negligência na preparação. O amor a Hashem manifesta-se na nossa disponibilidade em fazer as coisas com a maior perfeição diante d´Ele.
Os que não levam estas coisas a sério demonstram que Hashem não tem a primazia nas suas vidas.
“Levítico 10:3 Disse Moisés a Arão: Isto é o que o Senhor falou, dizendo: Serei santificado naqueles que se chegarem a mim, e serei glorificado diante de todo o povo. Mas Arão guardou silêncio.
A santidade tem a ver com a aproximação. Quando mais subimos o degrau da santidade, mais nos achegamos ao Eterno.
O caminho da santidade está nas alturas.
Isaías 35:8-9: “E ali haverá uma estrada, um caminho, que se chamará o caminho santo; o imundo não passará por ele, mas será para aqueles; os caminhantes, até mesmo os loucos, não errarão. Ali não haverá leão, nem animal feroz subirá a ele, nem se achará nele; porém só os remidos andarão por ele.”
Um santo não pode ser alcançado pelos demónios. Pelo contrário, os demónios fogem de uma pessoa santa.
Os demónios tinham temor de Yeshua. Eles não falam do poder de Yeshua, mas sim da sua santidade. A santidade é o que mais molesta os espíritos malignos.
Há um tipo de poder sobrenatural que opera fora da santidade, mas não há santidade sem poder sobrenatural. O poder de santidade elimina o poder do mal, tanto dentro de nós, como através de nós.
Busquemos santidade em primeiro lugar, e então estaremos em condição para poder usar o poder do Eterno corretamente.
O livro de Levítico é um livro de Santidade.
Um servo do Eterno que foi colocado como líder tem que ter um nível de santidade superior ao resto do povo.
Levítico 10:3 “Mas Arão guardou silêncio”
Arão mostrou com este ato que amava o Eterno mais que aos seus próprios filhos. A família não pode ser um obstáculo para servir a YHWH, cf
Mateus 10:37: “Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim.”
10:6 “E Moisés disse a Arão, e a seus filhos Eleazar e Itamar: Não descobrireis as vossas cabeças, nem rasgareis vossas vestes, ……”
Segundo o Talmud é proibido cortar o cabelo e a barba durante o luto. Por outro lado, é proibido rapar o cabelo ou a barba.
A Torá ensina-nos um estilo de vida com modéstia, não é bom ser extremista nem para um lado nem para o outro.
10:7 “Nem saireis da porta da tenda da congregação, para que não morrais; porque está sobre vós o azeite da unção de YHWH. E fizeram conforme à palavra de Moisés.”
Isto ensina que a unção só foi dada para servir ao Eterno. Se for usada para outra coisa há pena de morte.
HaSatan tentou fazer com que Yeshua usasse a unção para benefício pessoal, mas foi rejeitado pelo Mestre imediatamente.
Mateus 4:3-10. …8 Tornou o Diabo a levá-lo, agora para um monte muito alto. E mostrou-lhe todos os reinos do mundo em todo o seu esplendor. 9E propôs a Jesus: “Tudo isso te darei se, prostrado, me adorares. 10Ordenou-lhe então Jesus: “Vai-te, Satanás, porque está escrito: ‘Ao SENHOR, teu Deus, adorarás e só a Ele servirás’”.
A embriaguez produz principalmente três coisas a curto prazo, tonturas, confiança excessiva em si mesmo e redução da atividade mental.
Levítico 10:9-11 “Não bebereis vinho nem bebida forte, nem tu nem teus filhos contigo, quando entrardes na tenda da congregação, para que não morrais; estatuto perpétuo será isso entre as vossas gerações;
E para fazer diferença entre o santo e o profano e entre o imundo e o limpo, e para ensinar aos filhos de Israel todos os estatutos que YHWH lhes tem falado por meio de Moisés.”
A razão desta proibição é que o álcool diminui a capacidade intelectual para conseguir discernir entre uma coisa e outra.
Aquele que bebe álcool em excesso não tem uma visão clara para poder ensinar a Torá ao povo.
Quarta leitura: 10:12-15
10:14 “Também o peito da oferta movida e a espádua da oferta alçada, comereis em lugar limpo, tu, e teus filhos e tuas filhas contigo; porque foram dados por tua porção, e por porção de teus filhos, dos sacrifícios pacíficos dos filhos de Israel.”
Este lugar limpo correspondia a todo o acampamento de Israel, visto que aí não podia entrar nenhuma pessoa com lepra, porque tornaria impuro o acampamento.
Na época dos templos, a cidade de Jerusalém era considerada pura até os limites das suas muralhas.
Isto nos mostra que as ofertas com maior grau de santidade, podem ser comidas fora do templo, dentro das muralhas de Jerusalém.
Sexta Leitura: 11:1-32
Gostaria de dedicar um pouco mais de tempo no capítulo 11 de Levítico e com isso terei que abandonar algumas instruções da Torá.
Levítico 11:2 “Fala aos filhos de Israel, dizendo: Estes são os animais, que comereis dentre todos os animais que há sobre a terra;”
Neste capítulo são definidos quais são os animais apropriados para alimento, e quais estão proibidos para os filhos de Israel.
Os filhos de Israel foram separados dos demais povos para serem diferentes.
Logo estas leis são para todos os que são parte do povo de Israel, tanto os naturais como aqueles que foram enxertados pela conversão através de Yeshua.
Nenhum animal foi criado com o propósito de ser comido, isso só acontece após o pecado entrar no mundo, e cerca de um milénio e meio depois da criação,
após o dilúvio é que passa a ser permitido aos homens comer animais, devido ao fato de toda a vegetação ter desaparecido.
É lícito comer carne, mas a alimentação inicialmente definida pelo Eterno, à base de frutas e o fruto da terra (cereais e legumes) que não incluía carne, é muito mais saudável para o organismo humano.
A dieta é uma das coisas mais importantes que marca a diferença entre os filhos de Israel e os demais povos. Este capítulo ensina-nos aquilo que o Eterno considera apropriado para a alimentação humana.
Desde o princípio que Ele se preocupa com a alimentação humana. O primeiro mandamento que foi dado ao homem estava relacionado com a alimentação.
O pecado entrou no mundo através de um alimento proibido. Logo, se o Eterno considera que isso é importante, o homem também deve considerar que é.
É o Eterno quem estabelece o que é muito importante e o que não é tão importante. As Escrituras ensinam que a alimentação é muito importante, pois está relacionada com a santidade e com o pecado.
Os mandamentos relacionados com os alimentos puros e impuros, são considerados “chukim”, aqueles que não têm explicação lógica.
Hoje em dia a opinião da maioria dos nutricionistas considera a dieta recomendada pelas Escrituras como a mais benéfica para a saúde humana.
Uma alimentação que é considerada “apropriada” para um israelita é chamada “kasher”, que significa “correto”, “apta”, “apropriada”.
A palavra “kasher”ou Kosher (askenazim ou sefaradi) aparece três vezes nas Escrituras:
Eclesiastes 10:10: אִם-קֵהָה הַבַּרְזֶל, וְהוּא לֹא-פָנִים קִלְקַל, וַחֲיָלִים, יְגַבֵּר וְיִתְרוֹן הַכְשֵׁיר, חָכְמָה.
10 If the iron be blunt, and one do not whet the edge, then must he put to more strength; but wisdom is profitable to direct.
10 Se o ferro é cego e não se afia o fio, então deve-se esforçar mais; mas é uma vantagem kashiyr (apropriada) a sabedoria.
10Se o machado perder o corte e não for afiado, será preciso golpear com muito mais força; ter uma atitude sábia assegura o sucesso! (BKJA)
Eclesiastes 11:6 בַּבֹּקֶר זְרַע אֶת-זַרְעֶךָ, וְלָעֶרֶב אַל-תַּנַּח יָדֶךָ: כִּי אֵינְךָ יוֹדֵעַ אֵי זֶה יִכְשָׁר, הֲזֶה אוֹ-זֶה, וְאִם-שְׁנֵיהֶם כְּאֶחָד, טוֹבִים.
In the morning sow your seed, and in the evening do not rest your hand: for you do not know whether it is kosher, this or that, and if both are good.
De manhã, semeia a sua semente, e à tarde não descanse a sua mão: porque você não sabe se é kosher, esta ou aquela, ou se ambas são boas.
6 Logo ao alvorecer semeia a tua semente e à tarde não repouses a mão, pois não sabes qual das tuas obras vai prosperar, se esta ou aquela, ou ambas serão boas (BKJA)
Ester 8:5 וַתֹּאמֶר אִם-עַל-הַמֶּלֶךְ טוֹב וְאִם-מָצָאתִי חֵן לְפָנָיו, וְכָשֵׁר הַדָּבָר לִפְנֵי הַמֶּלֶךְ, וְטוֹבָה אֲנִי, בְּעֵינָיו–יִכָּתֵב לְהָשִׁיב אֶת-הַסְּפָרִים, מַחֲשֶׁבֶת הָמָן בֶּן-הַמְּדָתָא הָאֲגָגִי, אֲשֶׁר כָּתַב לְאַבֵּד אֶת-הַיְּהוּדִים, אֲשֶׁר בְּכָל-מְדִינוֹת הַמֶּלֶךְ.
5 And she said: ‘If it please the king, and if I have found favour in his sight, and the thing seem right before the king, and I be pleasing in his eyes, …
E disse: Se o rei é bom, e se eu achei graça aos olhos dele, então é kosher que ele revogue todas as cartas que Hamã…
5 E confirmou sua súplica, dizendo: “Se for do agrado do rei, e se hoje alcanço o seu favor, e se ele considerar justo, e se eu mesma for agradável a seus olhos, (BKJA)
Temos que reconhecer que não entendemos a razão pela qual YHWH deu essas instruções, há coisas que estão além do nosso conhecimento como nos diz:
Deuteronómio 29: 29 Os conhecimentos ocultos pertencem a Yahweh nosso Deus: o saber revelado, entretanto, pertence a nós e a nossos filhos, para sempre, a fim de que vivamos na prática de todas as Palavras desta Torá, Lei!
A razão pela qual devemos considerar estes animais como impuros é simplesmente porque a Torá diz que são, e ponto final.
Como princípio podemos dizer que a nossa obediência a estes mandamentos não tem a ver com higiene, nem com intoxicação ou efeitos colaterais no corpo humano.
Tem a ver com a nossa relação com o Eterno. Pelo fato do Eterno nos ter instruído assim, nós obedecemos.
É certo que a obediência aos mandamentos traz vida longa vida e saúde aos nossos corpos, e é certo que muitos animais impuros são nocivos e podem conter elementos perigosos para o homem.
É certo que a natureza do animal está no sangue e se comemos algo com sangue, é provável que a natureza do animal afete o caráter daquele que come.
Mas todas estas coisas são secundárias, e a Torá não foca nelas. A Torá diz que aquele que deixa de se alimentar de certos animais que são considerados impuros, torna-se santo, separado, consagrado.
Estas leis têm a ver em primeiro lugar com a santidade, e a santidade tem muito a ver com a alimentação. Como uma consequência desta obediência, há saúde e prosperidade,
mas o propósito principal destes mandamentos não é a saúde, mas sim a santidade.
YHWH não permite que uma pessoa “impura” se aproxime da sua presença. Portanto, o estado de impureza faz com que o homem se distancie do Eterno.
Santidade tem a ver com a aproximação. Para poder ser santo, há que se afastar da impureza ritual, e por esta razão foram dadas estas leis de Kashrut.(Kashrut ( כַּשְרוּת), (é o termo que se refere às leis dietéticas do judaísmo).
11:42 Tudo que se arrasta sobre o ventre, … enfim, todos os animais que se movem rente ao chão, vos são proibidos como alimentos, pois são imundos.
Segundo Rashi, refere-se à serpente. Na palavra hebraica que foi traduzida como “ventre”, encontra-se a letra central da Torá.
כָּרֵס karres = Ventre, abdomem
A letra “vav” significa “gancho”, O talmud refere-se aos ganchos de prata presos à lugares (chamados amudim) que foram usados para segurar a cortina (yeriah) do tabernáculo como um sinal.
É a sexta letra do alfabeto hebraico. O número seis é o número do homem e do livre arbítrio.,
Estas coisas nos levam a algo muito importante: O homem que foi pregado como um sinal. Quem será?
No capítulo sobre comidas permitidas e proibidas fala-se de um animal que se arrasta sobre o seu ventre. Nesse ventre está o sinal.
Isto nos lembra a antiga serpente, que foi amaldiçoada e tem que andar sobre o seu ventre, e ela fez com que o pecado se introduzisse no mundo.
Através de um alimento proibido o pecado entrou no ventre do homem e espalhou-se por todo o seu ser.
A salvação desta situação é que aquele homem, carregue os pecados da humanidade, no lugar da humanidade e seja pregado no madeiro.
Este é o sinal, a mensagem da Torá, para que todos exerçam o seu livre arbítrio e tomem a decisão de crer n´Ele para não se perder, e herdar a vida eterna. Baruch Hashem!
11:43 “Não vos façais abomináveis, por nenhum réptil que se arrasta, nem neles vos contamineis, para não serdes imundos por eles;”
Se alguém come estas coisas abomináveis a sua alma torna-se abominável para YHWH.
11:44 “Porque eu sou YHWH vosso Elohim; portanto vós vos santificareis, e sereis santos, porque eu sou santo; e não vos contaminareis com nenhum réptil que se arrasta sobre a terra;”
Esta é a primeira vez que aparece a expressão “sereis santos, porque eu sou santo” e é relativo à alimentação.
Isto nos ensina que a santidade depende em grande parte do tipo de comida que comemos.
11:45 “Porque eu sou YHWH, que vos fiz subir da terra do Egito, para que eu seja vosso Deus, e para que sejais santos; porque eu sou santo.”
O texto hebraico diz que YHWH fez subir do Egito os filhos de Israel. Não é uma coisa somente do passado, mas sim do presente.
Através da nossa obediência aos mandamentos deixamos de viver como vivíamos no Egito, comendo todo o tipo de coisas que produziam abominação nas nossas almas.
Graças à Torá que nos ensina, podemos sair da escravidão do Egito, e atentar para estas regras de Kashrut (leis dietéticas do judaísmo) para ser um povo santo, separado para D’us, nosso Pai.
Limites (Shemini 5780)
A história de Nadav e Avihu, os dois filhos mais velhos de Aharon que morreram no dia em que o Santuário foi dedicado, é uma das mais trágicas da Torá.
Transformou um dia que deveria ter sido uma celebração nacional em um dia de profunda tristeza. Aharon, enlutado, não conseguia falar. Uma sensação de luto caiu sobre o acampamento e as pessoas.
Deus disse a Moisés que era perigoso ter a Presença Divina dentro do acampamento (Êxodo 33: 3), mas mesmo Moisés não poderia ter adivinhado que algo tão sério como isso poderia acontecer.
O que Nadav e Avihu fizeram de errado? Alguns dizem que eles almejavam liderar o povo e esperavam impacientemente pela morte de Moisés e Aharon.
Outros ainda dizem que não buscaram orientação sobre o que deveriam fazer e o que não lhes era permitido fazer neste dia.
Outra explicação é que eles entraram no Santo dos Santos, o que apenas o Sumo Sacerdote tinha permissão para fazer.
A explicação mais simples, porém, é aquela dada explicitamente no texto. Eles ofereceram “fogo estranho que não foi ORDENADO.
” Por que eles fizeram tal coisa? E por que foi um erro tão sério?
A explicação que faz mais sentido é que eles foram levados pelo clima do momento. Eles agiram em uma espécie de êxtase.
Eles foram pegos pela pura emoção da inauguração da primeira casa coletiva de adoração na história dos filhos de Abraão.
Eles queriam fazer algo extra, não ordenado, para expressar seu fervor religioso. O que há de errado nisso?
Moisés agiu espontaneamente ao quebrar as tábuas após o pecado do Bezerro de Ouro. Séculos depois, David agiu espontaneamente quando dançou enquanto a Arca era levada para Jerusalém.
Nenhum deles foi punido por seu comportamento (embora Mical repreendeu seu marido David após a dança). Mas o que fez Nadav e Avihu merecerem uma punição tão severa?
A diferença era que Moisés era um Profeta. David era um rei. Mas Nadav e Avihu eram sacerdotes. Profetas e reis às vezes agem espontaneamente.
Para cumprir suas funções, eles precisam entender o clima do momento e o que ele exige. Isso os leva, de vez em quando, a agir de forma espontânea.
Moisés sabia que apenas algo tão dramático como quebrar as tabuas lhes transmitiria quão grave era seu pecado.
David sabia que dançar ao lado da Arca expressaria ao povo significado do que estava acontecendo, que Jerusalém estava prestes a se tornar não apenas a capital política, mas também o centro espiritual da nação.
Esses atos de espontaneidade foram essenciais para moldar o destino das pessoas.
Mas os sacerdotes têm um papel totalmente diferente. Eles habitam um mundo atemporal, no qual nada de significativo muda. Os sacrifícios diários, semanais e anuais eram sempre os mesmos.
Cada elemento do serviço do Tabernáculo era limitado por suas próprias regras detalhadas, e nada de significativo foi deixado ao critério do sacerdote.
O Sacerdote era o guardião da ordem. Era sua função manter os limites entre sagrado e secular, puro e impuro, perfeito e imperfeito, permitido e proibido.
Como Deus diz a Aharon em nossa parashá: “Você deve distinguir entre o sagrado e o profano, e entre o impuro e o limpo; e você deve ensinar aos israelitas todas as leis que o Senhor comunicou a eles por meio de Moisés.”
A vocação sacerdotal era lembrar ao povo que há limites. Existe uma ordem para o universo e devemos respeitá-la. A espontaneidade não tem lugar na vida do Sacerdote ou no serviço do Santuário.
Isso é o que Nadav e Avihu falharam em honrar. Pode ter parecido uma transgressão menor, mas na verdade foi uma negação de tudo o que o Sacerdócio representava.
Existem limites. É disso que trata a história de Adão e Eva no Jardim do Éden.
Por que Deus se daria ao trabalho de criar duas árvores, a Árvore da Vida e a Árvore do Conhecimento, das quais os seres humanos são proibidos de comer?
Por que dizer aos humanos quais os frutos que não poderiam comer? Por que os expor à tentação? Quem não gostaria de ter conhecimento se pudesse adquiri-los apenas comendo uma fruta?
Por que plantar essas árvores em um jardim onde os humanos não pudessem deixar de vê-las? Por que colocar Adão e Eva em um teste que eles provavelmente não passariam?
Para ensinar a eles, e a nós, que mesmo no Éden, na Utopia, no Paraíso, existem limites. Existem certas coisas que podemos e gostaríamos de fazer que não devemos fazer.
O exemplo clássico é o meio ambiente. Em quase todos os lugares onde os seres humanos colocaram os pés, eles deixaram um rastro de destruição.
Eles cultivaram terras até a exaustão e caçaram animais até a extinção. Eles o fizeram porque não tinham embutido em suas mentes a noção de limites.
Daí o conceito, chave para a ética ambiental, de sustentabilidade, ou seja, limitar a sua exploração dos recursos da Terra ao ponto em que eles possam se renovar.
A falha em observar esses limites faz com que os seres humanos sejam exilados de seu próprio jardim do Éden.
Há muito tempo que conhecemos as ameaças ao meio ambiente e os perigos das mudanças climáticas, certamente desde a década de 1970.
No entanto, as medidas que a humanidade tomou para estabelecer limites relativos à poluição, destruição de habitats e coisas semelhantes foram, em sua maioria, poucos e tardios.
A revolução científica e o Iluminismo nos dotaram da crença de que não há limites, que a ciência e a tecnologia resolverão todos os problemas que criarem e a terra continuará indefinidamente a render sua generosidade.
Esqueça os limites e, eventualmente, perdemos o paraíso. É isso que a história de Adão e Eva avisa. A energia nuclear, é poderosa, mas ao mesmo tempo precisa de limites.
Da mesma forma, a energia do povo judeu foi contida em um tipo diferente de recipiente, a lei. Isso funcionou como uma garrafa dentro da qual a energia espiritual e intelectual poderia ser mantida.
A energia contida pode ser uma força motriz por um período indefinido; a energia descontrolada é apenas uma explosão grande e geralmente destrutiva. Na natureza humana, apenas a energia disciplinada é eficaz.
Esse era o papel do Sacerdote, e é o papel da halachá. (Halachá (הלכה) é o conjunto de LEIS do povo e da religião judaica relacionados aos costumes e tradições, como guia do modo de viver judaico).
Ambos são expressões de limites: regras e leis. Sem limites, as civilizações podem ser emocionantes, mas de curta duração como fogos de artifício.
Para sobreviver, eles precisam encontrar uma maneira de conter a energia para que dure sem diminuir. Esse era o papel do Sacerdote e o que Nadav e Avihu traíram ao introduzir a espontaneidade onde ela não pertence.
Acredito que precisamos recuperar o senso de limites porque, em nossa busca desenfreada por riquezas, estamos colocando em risco o futuro do planeta
e traindo nossa responsabilidade para com as gerações que ainda não nasceram. Existem coisas que não devemos comer e fogo que não devemos trazer.
Shabbat Shalom